🚀 De volta, de novo: escrevendo para viver e quebrando paredes
Olá, olá!
No período em que mais gente nova chegou na minha lista de e-mails, o envio de textos deu uma estagnada. Mas, felizmente, isso aconteceu por causa de muita produção rolando. Ainda assim, me incomoda essa parada e hoje dou início a mais um formato novo na lista, mais curtinho e direto, que vai inclusive me permitir mais regularidade.
Alguns dos textos que geram mais interações na lista são os mais longos e eles não serão deixados de lado. Mas como eles exigem mais tempo e preparação, eles ficarão para momentos especiais. Por hoje eu queria falar sobre viver de escrever e te dar duas indicações de quadrinhos.
Viver de escrever?
Hoje eu me peguei pensando que uma boa forma de me conhecer como artista seria entrevistando minha esposa. Vez por outra me perguntam sobre minha rotina e sobre produtividade (uma FARSA que será tema de um do texto meu muito em breve) e conversando com ela nesses dias percebi que é impossível ter uma rotina bonitinha com a vida profissional a que me propus. Se um entrevistador chegasse para a dona Lara com a proposta de perguntar sobre o dia a dia do marido dela, ela provavelmente diria que fica tonta só pensar no meu cérebro organizando, o tempo todo, minhas pendências de trabalho. Na profissão de escritor no Brasil, escrever é só um um pedaço da coisa. Um pedaço BEM PEQUENO em vários momentos.
Rotina? Agora estou escrevendo esse texto para enviar para uma lista de e-mails, daqui a pouco estarei resolvendo uma pendência numa prestação de contas de edital, logo depois preciso conferir o que tenho de recebimentos pendentes e à noite... Bom, à noite eu vou dar aula na faculdade (meu plano A, porque não posso chamar de plano B o que paga a maior parte das minhas contas). "E você não escreve?". Sim, em algum momento eu vou escrever, durante um longo período de dias, alucinado e focado (e deixando todas as outras coisas atrasarem). Enquanto isso, vou matando a burocracia que há por trás disso.
Apostar na escrita como profissão não é para quem é obcecado por rotina ou estabilidade (essa última é outra mentirinha capitalista). Eu demorei para entender isso, mas quando finalmente entendi consegui lidar muito melhor com as expectativas e frustrações que vem embarcadas em produzir arte no Brasil. E é uma coisa que pode demorar. Só depois de uma década nessa indústria vital eu consegui falar (sem ficar envergonhado) que trabalho com isso. Talvez porque na primeira década eu mais gastava do que ganhava grana escrevendo.
Além da burocracia, tem um pouco mais... Para muita gente meu trabalho como escritor é escrever e lançar livros autorais (aqueles feitos de forma natural, com ideias minhas mesmo). Fica escondido debaixo do tapete um sem fim de "freelas" que dão mais sustentabilidade financeira. Enquanto este ano eu lancei como obra inédita e autoral (já comprou sua Luzia), eu fiz dois quadrinhos institucionais (encomendas para empresas), escrevi 92 páginas de um roteiro de HQ encomendado por uma editora e ainda alguns roteiros para vídeos institucionais. E falando em grana, não podemos esquecer dos eventos, que (quando pagam) são uma das melhores fontes financeiras desse ramo.
Resumindo: é preciso deixar um pouco de lado o romantismo dessa profissão. Meus amigos que vivem apenas disso, até mesmo alguns que podem se chamar de bestsellers, têm que ralar muito com atividades paralelas à escrita para conseguir, de vez em quando, lançar aquele trabalho que realmente saiu do coração deles.
Eu falei sem romantismo? Tá, vou me permitir uma coisa breguinha e cafona no final desse texto. A resposta que muito escritor dá quando lhe perguntam se ele vive de escrever, você já deve ter ouvido, é que eles ESCREVEM PARA VIVER. E é bem isso mesmo. A melhor forma de encarar essa atividade é entendendo que você faz porque precisa e, no decorrer do processo, vai botar para fora o que acha que precisa botar. Para mim, hoje, isso é um grande privilégio.
Baião-de-Dois: duas indicações, um assunto
Essa lista de e-mails surgiu para dar indicações de coisas para ler, ouvir e assistir, então nessa nova fase isso não poderia faltar. No "Baião-de-Dois", que será EXCLUSIVO para quem lê meus textos por e-mail, eu faço duas indicações que tem alguma ligação. Recentemente eu tive contato com duas publicações em quadrinhos que tratam de metalinguagem.
Lançado pela primeira vez em 2013 nas páginas da revista francesa Spirou, o personagem Imbatível (Imbattable, no original) surgiu com a proposta de ser um super-herói capaz de ver a página de quadrinhos em que está presente e trespassar os quadros para ajudar as pessoas. Vale dizer que essa ideia não é exatamente a mais original do mundo e já foi executada por um monte de gente (inclusive por mim), mas sem dúvida o francês Pascal Jousselin foi um dos que a executou com maior elegância. Com três álbuns já lançados na França, coube a editora Saber e Ler (Nanabooks) lançar o primeiro volume no Brasil este ano. É um volume divertidíssimo e que superou minhas expectativas. A maioria das histórias desse encadernado tem uma página. Mais do que criar um super-herói metalinguístico, Jousselin criou um universo próprio e foi uma surpresa muito legal ver outros coadjuvantes com poderes metalinguísticos diferentes no decorrer da publicação. Um verdadeiro tratado experimental sobre quadrinhos, mas carregado de bom humor. P.S.: minhas filhas (8 e 6 anos) adoraram.
Aqui no Brasil, no final do ano passado, nós também ganhamos um trabalho inusitado nessa linha. A HQ Meta - Depto. de Crimes Metalinguísticos apresenta a organização que dá nome à história, especializada em resolver crimes metalinguísticos em diversas linguagens. Onde há uma história e um personagem engraçadinho querendo quebrar a "quarta parede", o Meta atuará para manter o equilíbrio. Lançado pela Zarabatana Books e com desenhos de André Freitas, cores de Omar Viñole e letras de Deyvison Manes (parceiro em vários trabalhos meus e que neste trabalho ganha espaço para brilhar na subestimadíssima área dos balões), o grande destaque fica pelo roteiro do Marcelo Saravá, cheio de boas sacadas. Sou um grande fã do trabalho do Saravá, que sempre foi um pouquinho além em seus ótimos trabalhos anteriores, sempre experimentando coisas diferentes, como em 1000 Palavras, Quarta-Feira de Cinzas e Aos cuidados de Rafaela. Mais gente deveria estar falando deste último trabalho dele.
VEM AÍ
Quando você menos esperar... BANG! Estarei anunciando meu novo trabalho. Vou me embrenhar numa nova linguagem e vou precisar MUITO da sua ajuda... Ajuda de VOCÊ mesmo, que está lendo esse texto agora (olha eu quebrando a quarta parede). Posso contar com você?
Você também está tentando viver de escrever? Conhece outros quadrinhos metalinguísticos? Responde este e-mail se tiver algo a falar sobre esses assuntos!
Meu último trabalho lançado foi Luzia e te pergunto: já leu? Ajuda MUITO se você divulgar em suas redes sociais ou deixar uma avaliação para o livro na Amazon, no Goodreads ou no Skoob. É só clicar nos links aí atrás para ir para a página do livro.
É sempre bom lembrar que o que eu penso eu registro no meu Instagram e no meu Twitter.
BORA JUNTO!
Um abraço,
Zé Wellington
www.zewellington.com