Baião-de-Dois: Operação Prato e O piloto
Dois podcasts para gerar assunto na sua ceia de Natal
Essa lista de e-mails surgiu para dar indicações de coisas para ler, ouvir e assistir. Nos textos do Baião-de-Dois, eu faço duas indicações que tem alguma ligação. Essa edição tem como tema PODCAST.
Durante alguns anos tive experiências muito legais fazendo podcast no Iradex e até usei a linguagem no meu conto transmídia Mata-mata (e em sua “versão estendida” impressa). Eu sou um apaixonado pela mídia e suas possibilidades.
Um dia desses, ouvindo um podcast, pensei: nessa época que se fala que tudo tem que ser vídeo, porque alguém escolheria o podcast, um veículo naturalmente de áudio (não me venha falar de “mesacasts”), para contar uma história? Refleti sobre isso enquanto ouvia o podcast Operação Prato, conduzido pelo Andrei Fernandes e o time do Mundo Freak. Cheio de menções a reportagens e fotos da época, era o tipo de coisa que faria muito mais sentido como documentário em audiovisual, certo?
Acho que não.
Antes de dormir, tento ver uma série de 30 minutos e às vezes não chego até o final. Mas duas horas e trinta minutos de áudio dentro do carro (divididos em vários pedaços, na maioria das vezes) é muito mais fácil de dar conta. Acaba que essa linguagem é muito funcional para despejar milhões de detalhes de uma história que você quer contar, o que talvez explique também o sucesso dos podcast de true crime, que exploram os detalhes de crimes da vida real. Enquanto os números do mercado de livros impressos são preocupantes, qualquer análise de tendências da literatura comercial vai incluir o aumento do interesse das pessoas por escutar os livros (mas esse assunto fica para outro dia).
É meio doido falar de Operação Prato, porque trata-se de um podcast falando sobre a famosa operação militar no Brasil para averiguar aparições de OVNIs no Pará e no Maranhão no final da década de 1970. Eu falo que é meio doido não só por todo caso em si, mas por especificamente eu indicar algo assim, depois que um dos textos meus que mais bombou este ano recomendava a não acreditar em alienígenas. Em minha defesa, alego que, como escritor, sou um apaixonado por mistérios e causos insólitos, pratos cheios (tudunts) para inspirar histórias (tomando os devidos cuidados, como falei nesse mesmo texto).
Operação Prato tem a direção do Ivan Mizanzuk, um verdadeiro guerreiro do podcast brasileiro desde a época do saudoso Anticast. Ele também lançou um podcast excelente esse ano, a sétima temporada de seu celebrado Projeto Humanos, subintitulada de O piloto. Foi em temporadas anteriores do seu Projetos Humanos que o Ivan contou o Caso Evandro, que explodiu para fora da podosfera e virou uma excelente minissérie (em audiovisual) no Globoplay.

Em O piloto, investigamos o misterioso desaparecimento de um avião de pequeno porte com um único passageiro. Até aí tudo bem, não fosse o tal piloto do título um cara envolvido em diversos esquemas, que envolviam (ou não) gerentes de banco fugindo com a grana dos clientes, contrabando de estrume e um pai com ligações com o serviço secreto brasileiro, entre outras mil e uma situações esquisitas.
Podcasts do tipo true crime não escapam das regras da “contação de história”, ou “storytelling”. Esse termo significa muita coisa, mas no geral fala sobre as escolhas que o criador faz na hora de apresentar o que quer contar. Roteirista de cinema estudam sobre isso. Desenhistas de história em quadrinho hoje são mais avaliados por seu storytelling de página do que por entender de anatomia ou perspectiva. Donos de startups estão aprendendo sobre isso, para apresentar pitches mais sólidos para investidores. Parece que a Era das Histórias está chegando. Mais importante que o texto da piada é o COMO VOCÊ CONTA a piada. Saber O QUE mostrar e QUANDO é uma fina arte que mantém o espectador atento até o final da história. Isso em tempos de seres humanos cada vez menos concentrados vale ouro.
Acompanhei fielmente os dois podcasts durante esse final de ano (as temporadas de ambos acabaram neste mês de dezembro) e fiquei pensando bastante sobre os casos apresentados. São duas histórias cabulosas e entendo a expectativa dos ouvintes por respostas concretas sobre elas. Felizmente, o Andrei e o Ivan conseguiram construir textos poderosos e sensíveis nos mostrando o que realmente importa quando se imerge em histórias de vida: as pessoas.
Os textos de fechamento dos dois podcasts indicados, na minha opinião, conversam bastante entre si, mostrando o quanto mergulhar nessas histórias malucas fez seus criadores pensarem sobre suas próprias histórias. História boa também mexe com quem a fez.
Leia os “Baião-de-Dois” anteriores:
É bom lembrar que sempre estou indicando coisas no meu Instagram.
Um abraço,
Zé Wellington
Obrigado pelas sempre ótimas indicações Zé!