Uma página de HQ, do início ao fim (ou quase)
Do argumento às letras, como se faz uma página de uma história em quadrinhos
Tem muitos jeitos de se fazer HQ (eu até falei bastante sobre isso no texto da semana passada). Hoje vamos colocar num raio-X uma das páginas da minha nova HQ, Cangaço Overdrive: Além das raízes (que está em pré-venda numa campanha de financiamento coletivo que precisa do seu apoio). Passo-a-passo, você vai conhecer como chegamos do argumento à página letreirizada.
Antes de escrever um roteiro, passo meses indo e voltando no argumento, um resumo com início, meio e fim da história. Faço leituras sobre o tema e vou testando possibilidades para a história. Para essa página específica, o trecho do argumento dizia o seguinte:
Desse parágrafo marcado, transformei as duas primeiras frases na página que estamos analisando. A outra frase se transformou na página seguinte. Como curiosidade, essa página mudou muito pouco do argumento para a versão final. Mas fazendo a leitura do argumento inteiro hoje, vi como mudei completamente o final da história quando cheguei no roteiro. Isso é normal, faz parte do processo.
O roteiro é essa fase de ampliar o que está no argumento, acrescentar ainda mais detalhes, quebrar a ação em quadros e definir os diálogos. Nesta página ficou assim:
Do roteiro, a página seguiu para ser “layoutada” (ou “rafeada”) pelo Rodrigo Matos, que fez os desenhos dos flashbacks da HQ. O Rodrigo fez esse esboço da página para que a gente visse se o ritmo estava legal e estudasse o tamanho de cada quadro:
Com esse layout aprovado, o Rodrigo seguiu para a etapa de lápis propiamente dito. Bom, na real lápis, no nosso caso, é só jeito de falar. Tanto o Rodrigo quanto o Rafael Dantas (o outro desenhista da HQ) começam MESMO a página digitalmente (usando tablet ou mesas digitais). Aqui, a gente já começa a ver a página do jeito que ela vai sair impressa:
É também quando a gente vai revendo algumas decisões do roteiro. Percebeu que o último quadro mudou? Com o lápis aprovado, seguimos para a artefinal. Antigamente essa fase dizia respeito a utilizar nanquim sobre o lápis para deixar o desenho mais bem definido. Com as coisas se tornando digitais, a artefinal virou uma espécie de limpeza e definição da etapa de lápis digital:
Agora é hora de ir para as cores… Ou quase isso. Dentro do mercado há uma etapa conhecida como flats, que é uma separação de cores antes da colorização em si. Na nossa HQ, dois profissionais atuaram: Mariane Gusmão e Marcos Sales. O Marcos pegou essa página do Rodrigo e entregou ela “flatada” desse jeito:
As cores da HQ foram feitas por duas pessoas. O PH Gomes assumiu as cores da parte futurista e o próprio Rodrigo Matos fez as cores das suas páginas de flashback. Depois do flat, o Rodrigo colorizou a página desse jeito:
E aí, terminou essa parte de cores, né? Na real, não. Solicitei algumas mudanças para aproximar essa página do padrão de cores dos flashbacks do volume anterior e a versão final você vai ver quando comprar a HQ (que está a venda aqui, viu? 👀).
Mas, calma, ainda tenho coisa para mostrar. Finalmente, vamos para a letreirização (ou balonização) que nesta HQ eu mesmo fiz digitalmente usando o Adobe Illustrator:
Perceba que mesmo aqui ainda pode acontecer mudanças no que foi proposto no roteiro, já que fiz pequenas mudanças para melhorar os diálogos. E ainda pode mudar mais, porque a HQ ainda vai seguir para uma leitura final dos editores e para um revisor.
Mas para essa HQ se tornar real, precisamos do seu apoio na campanha de financiamento coletivo disponível aqui. Nos ajude a alcançar o 100% da meta e seguir para as metas ampliadas!